“O que meus olhos não me deixam obter informações sobre homens e eventos, sobre idéias e doutrinas, terei que encontrar uma outra forma". Essa frase do francês Louis Braille, o inventor do sistema de leitura para cegos conhecido pelo seu sobrenome, estampou as camisas dos participantes do curso de capacitação promovido pelo Instituto Benjamim Constant, do Rio de Janeiro, em Búzios, nesta semana. A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE Búzios) foi a anfitriã, viabilizando as estadias na Pousada Colonial, alimentação, além de material de apoio aos participantes.
O curso foi voltado para profissionais da saúde e da educação, também de Arraial do Cabo, São Pedro da Aldeia, Rio das Ostras e Cabo Frio. Professores, pedagogos, enfermeiros e fonoaudiólogos, discorreram sobre deficiência visual, orientação, mobilidade, e psicomotora, além de técnicas de auto-proteção. Foram estimulados a lidar com diversas situações dificultadas pela ausência de visão (como caminhar pelas ruas de olhos vendados, sendo conduzidos por um companheiro) e auxiliar de maneira efetiva os portadores de cuidados especiais, neste caso a cegueira. Os participantes passaram por um processo de seleção organizado pelas secretarias de educação de cada município, e ao retornarem aos seus trabalhos na segunda-feira, já começarão a aplicar seus conhecimentos nas salas de aula.
- Na nossa região não temos escolas que ensinam em Braille, apenas Macaé possui uma. Precisamos nos aperfeiçoar nesse sentido - informa Marilene Medeiros, pedagoga em São Pedro da Aldeia.
Ser cego no Brasil é uma luta
Vítima de acidente automobilístico, Armindo Caetano Pereira, de 64 anos, soube do curso e foi procurar maiores informações. Seu maior desejo é aprender Braile. Acabou dando uma grande lição sobre superação:
- No começo foram três meses de depressão. Fiquei muito triste quando me dei conta de que não poderia enxergar novamente, mas havia vida em mim e não desisti dela. Com muito esforço deixei de lado a depressão inicial e comecei a caminhar e aos poucos retomei meu cotidiano. Até hoje assino cheques e vou a bancos sempre com minha esposa que é minha companheira nessa luta, porque, ser cego no Brasil é uma luta - disse Armindo, que lida com a falta de visão há 26 anos. Seu relato emocionou a todos os presentes.
Atualmente, na rede de ensino de Cabo Frio, existem quatro salas de recursos multi-funcionais, aptas a receber alunos especiais. O apoio é dado através do Ministério de Educação e Cultura (MEC) e da secretaria municipal.
- Esse curso veio no momento correto para que possamos melhorar a qualidade de vida desses cidadãos. É de extrema importância essa ação, pois temos alunos com baixa visão e outros que ficarão cegos em pouco tempo, então essa capacitação veio no momento exato para que possamos atender essa demanda humana - explica a pedagoga Maria Cristina Azevedo, que coordena as salas.
- Temos a necessidade de nos adequar aos alunos com nescessidades especiais, pois atualmente esses alunos têm sede de informação e devemos estar preparados para isso – é o que acredita Marcelo Pentinne, professor do Instituto Benjamim Constant, que ministrou a capacitação.
- Nossa cidade deveria estar mais atenta, pois as ruas são esburacadas e existem poucas rampas de acesso e corrimãos, e nos comércios em geral não existem cardápios em Braille, isso dificulta muito a vida dessas pessoas – observa a fonoaudióloga pedagoga Cristiane Massine, da APAE. Ela concorda que na cidade deveria ter sido feito um projeto em dimensões maiores para atender a demanda de acessibilidade dos cidadãos.
Colaborador: Christianos Matos
Nenhum comentário:
Postar um comentário